domingo, 31 de janeiro de 2016

Conto - Liberdade Gentil




                                  Liberdade Gentil




                        

                 CAPÍTULO 1 - FOGUEIRA


     
  
  Sua mão o tocou carinhosamente, seus olhos também pareciam lhe tocar afetuosamente, com indubitáveis sentimentos; sentimentos antes tão apagados e agora, mais acesos do que a fogueira ao redor deles.
 Ele corou nervosamente, fechou os olhos negros e imaginou uma casa de madeira branca queimando, depois viu as faíscas dentro dos olhos claros da menina de cabelos ondulados e acinzentados, e então, o calor se tornou abruptamente um frio intenso e doloroso.
 Seus olhos se abriram novamente, e ele viu os lábios dela franzido, e ela esfregava suas pálidas mãos para se esquentar, e nisso, ele só conseguia imaginar uma praia de outono, com um céu armazenando dezenas de gaivotas e um sol laranja cobrindo o horizonte, livre do clima gélido e destruidor de paisagens como era onde eles estavam naquele momento.
No entanto, era apenas um sonho que nublava de vez em quando em sua mente compenetrada. Uma mente que nunca se distraia.As distrações se calavam quando ficava sozinho, mas quando Nila estava junto dele, não era capaz de se recordar nem do que ganhara em qualquer aniversário de sua vida.
Ela, propositalmente ou não, estremecia-lhe o coração, mesmo sentido-se um tanto envenenado pelo clima gélido e pelo barulho de brasas da fogueira que o deixava irritado demais para prestar a devida atenção na menina, sempre charmosamente quieta. Exceto seus olhos. O olhar jovem dela ora parecia de uma francesinha de quinze anos apaixonada por ele, ora parecia uma menina psicopata que cortaria cada parte de seu corpo para depois vender para os Banners. Banners são conhecidos por serem canibais, mas de acordo com a própria Nila, tudo não passa de boatos de mulheres velhas que não "dormem bem" há anos.

Oclyn não se importa, boatos para ele sempre foram como os flocos de neve: um dia estão caindo e vindo de todos os cantos do céu; outro estão congelando e virando água que termina sendo absorvida pelas terras enlameadas da Fazenda Nortlandis. Absorvida, da mesma maneira que acontece com as mentiras depreciativas as quais existem aos montes em Gelin, onde fica a fazenda dos Cloverters. 


Nascera ali, e infelizmente morreria ali. Sua família guarda aquelas terras há gerações - e mesmo sendo terras ruins no seu ponto de vista - jamais valeria a pena vende-la. Muito menos abandoná-la. Isso lhe custaria a sua vida, principalmente se seu primo descobrisse tudo. O odiado primo, o famoso Tedúniacorve, matador de ovelhas negras, e caçador de tigres do sul da montanha.

Uma piada para Oclyn, era isso que seu primo representava: uma péssima piada.
 De qualquer modo, olhar para Nila com seus longos cabelos com mechas sutilmente da cor castanho - claro, e saber que tinha pelo menos uma bela e agradável companhia feminina, lhe deixava menos aborrecido. Quando seu pai lhe dissera que deveria casar-se o quanto antes para manter o legado da família, ele nunca pensou que levaria a sério tais palavras. Entretanto, tudo mudou, tudo se alterou quando grande parte de seus familiares morreram de uma desconhecida doença que o deixava preocupadamente sem sono todas as noites; as noites com mais estrelas ou as mais reconfortantes. O conforto não fazia mais parte de sua vida e isso machucava sua alma; era como um pedra atravessando-lhe todos os malditos e bem - ditos dias de sua jornada - quase solitária.
Quase, porque, muito embora perdera quinze pessoas incríveis e inesquecivelmente importantes e amáveis em sua vida, Oclyn ainda tinha uma amiga. Uma quente e compreensiva amiga, que, de certa forma, se identifica com o que aconteceu com ele já que, sua tia mais velha,também morrera dias atrás da mesma doença fantasma. 



   Continua...

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