domingo, 31 de janeiro de 2016

Conto - Liberdade Gentil - Parte 2





                            Liberdade Gentil -



       Capítulo 1 - A Fogueira - Parte 2





  
 A doença que alguns chamavam de "Castalhena" com a insinuação que os Castalhenianos por não tomarem banho ( o que era uma mentira estúpida e preconceituosa) estariam infectando o ar em Gelin, com a doença que já havia matado, de acordo com os médicos, mais de oitocentos Gelianos.
 A primeira vez que ouvira isso, Oclyn botou a mão contra sua boca no desespero de não poder compreender que espécie de punição os pobres Gelianos estavam passando.
 Nila dizia que isso era normal, que a natureza também tem seus juízes e que os Deuses sabiam acertar suas escolhas independente das consequências que algumas, em específico, poderiam trazer.
 Oclyn discordava veemente. Se aquilo era uma decisão feita por um Deus, que mal gosto ele iria de ter  fazendo isso? O sadismo tem limites, pensava, olhando para a cor quente da fogueira, lembrando-se de tudo que ouvira e que jamais gostaria de voltar a ouvir.

Eu só vejo dores e mais dores. As dores estão saindo do frio e o frio delas, pois nem esse frio aguenta a dor.

Quando o rosto do seu irmãozinho bebê, que havia nascido não fazia cinco e injustos meses, entrou em sua mente, lágrimas pediram-lhe para descer sobre sua face. Se conteve, não queria parecer-lhe um covarde ou consternadamente depressivo. Mais um depressivo em Gelin não era nem um pouco necessário.

 A mulher se aproximou dele. Segurava um álbum de foto e desatava a rir enlouquecidamente como ele nunca vira outrora. Parecia que as imagens do passado a deixavam alegre, e não o contrário. Para Oclyn, ver o passado era um desperdício de tempo, porque ele sempre acabava vendo algo imprudente que se arrependera de ter feito até o último fio de cabelo loiro não sujo de sua cabeça.

- Olhe, Oclyn - ela disse, apontando para uma gravura na página esquerda, com suas luvas de lã da cor cinza. - Essa é Ketin, minha primeira babá. E essa, essa... - ela franziu a testa - Sim, Sim, lógico, como eu poderia me esquecer - disse, balançando sua cabeça, incrédula consigo mesma.

- E quem é essa - perguntou Oclyn, com os olhos pretos tampados pela franja longa e arrepiada.


- É Vamitane, minha primeira professora de matemática, já falecida, e essa...essa - ela deu uma risada abafada, depois se conteve, pois pareceu estranho - Ela era uma amiga minha. Rápida no arco, devagar na matemática e astuta quando o assunto era sobre agricultura. Nunca mais soube por onde ela anda, muito menos se ainda anda. Talvez tenha morrido, talvez tenha saído de Gelin antes de...antes...você sabe, Oclyn - ela disse, visivelmente incomodada em imaginar sua amiga do passado, morta no futuro.

- Vamos torcer para que ela tenha ido para bem longe - disse Oclyn, tentando parecer otimista, mas aparentando o inverso.

Nila apreciou a tentativa dele e o abraçou. Ela queria chorar, mas não tinha coragem. Não tinha coragem de demonstrar que não tem tanta coragem quanto o seu sorriso - que enfrenta os piores dias - demonstra que ela tem. De qualquer maneira, a mulher sabia se encorajar e sabia encoraja-lo e isso pode ser considerado como uma virtude tão linda quanto a coragem.


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